terça-feira, 27 de outubro de 2015

Quase no mar

Aqui onde faço essa poesia você não me encontrará,
e não será urgente nem definitivo,
apenas seus olhos não se deitarão sobre minhas sangrentas e esvaziadas
palavras, meu pequeno ardor e minha ferida grandiloquente.

Não nos veremos. Sua imensa e incomensurável dor estará presa em seu peito,
e você a carregará como uma cesta de flores, com o cuidado necessário para que ela continue em seu peito e não se esparrame pelas cidades.

O meu poema tão transitório, feito de gaze e sombra e guerra e das horas mais escuras do dia, o meu poema único e que te serviria como uma camisa, ele não lhe vestirá. Nós dois o perderemos, enquanto peixes no mar se servem de sal, e de ondas, e do imenso sol que perfura as águas diligentemente.


quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Às vezes chove pela manhã e eu não estou tão triste. 
Parece que a chuva está cuidando de algo, como uma mãe prestimosa penteia o cabelo do filho.

No trem vejo pessoas com muletas, com chapéu, mulheres tatuadas indo ao trabalho. 
Tudo de imensa tristeza. Alguém diz mãe 
de um jeito doce, 
como se houvessem palavras maiores que outras.

O trem avança lento, a condutora anuncia : próxima estação, Paraíso.